quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Meus sentimentos hoje


Cálice

Chico Buarque

Composição: Chico Buarque e Gilberto Gil

(refrão)
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

(refrão)

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

(refrão)

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

(refrão)

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguem me esqueça

2 comentários:

Manu disse...

Amiga!
Eu vivi de nostalgia esses anos todos. Mesmo agora ja estou nostalgica pela partida... Mas olha, isso e' o que de ser humano, ne'?
A gente logo logo bebe aquela!
Xero enorme!

sónós disse...

me lembro de algo assim, como: (...) amou daquela vez como se fosse a última
beijou sua mulher como se fosse a única
e cada filho seu como se fosse o pródigo
e atravessou a rua com seu passo tímido
sentou pra descansar como se fosse sábado
comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
bebeu e soluçou como se fosse máquina
(...)
e ainda: obrigado, por ter ser mandado,
ter me condenado a tanta liberdade
e também por não ter dito obrigado,
ter levado a ingratidão bem guardada.
pelos dias de cão, muito obrigado,
pela frase feita.
por esculhambar meu coração antiquado e careta
(...)
mas não me diga isso...é só hoje e isso passa. só me deixe aqui quieto, isso passa, amanhã é outro dia, não é?
eu nem sei porque me sinto assim...vem derrepente um anjo triste perto de mim...
não sei mais o que dizer...são apenas confissões, devaneios, espasmos, um fumegar breve de sonhos, sem expectativas, absolutamente orgânico e inteiramente só. Esqueça, vai sumir na multidão...na solidão da multidão.